Veredito Judicial: O Ossuário de Tiago (irmão de Jesus) não é falso

abr 6, 2012 by

Veredito Judicial: O Ossuário de Tiago (irmão de Jesus) não é falso

Depois de um julgamento de mais de cinco anos com 138 testemunhas, mais de 400 exposições e uma transcrição do julgamento de 12.000 páginas, o Juiz Aharon Farkash do Tribunal Distrital de Jerusalém inocentou os réus de todas as acusações de falsificação. Sua opinião no caso, proferido em 14 de Março, tem 474 páginas.

Os acusados Oded Golan e Robert Deutsch foram inocentados de todas as acusações de falsificação pelo juiz israelense Aharon Farkash.

Dos cinco réus indiciados originalmente em 2004, apenas dois permaneceram no caso: Oded Golan, um colecionador

Oded Golan e Robert Deutsch

de antiguidades com uma das coleções mais importantes em Israel (ele foi considerado culpado da acusação menor de negociação de antiguidades sem licença); e Robert Deutsch, o mais proeminente negociante de antiguidades, em Israel, que também ensinou na Universidade de Haifa, serviu como supervisor em escavação arqueológica de Megiddo e é autor de livros acadêmicos, sozinho e com outros estudiosos de renome internacional.

O mais famoso dos objetos acusados de serem falsificações é uma inscrição em um Ossuário ou caixa de ossos em que se lê “Tiago, filho de José, irmão de Jesus.” Ele recebeu sua primeira publicação na revista Biblical Archeological Review (Revista de Arqueologia Bíblica) em 21 de outubro de 2002. No dia seguinte, ele estava na primeira página de quase todos os jornais do mundo, incluindo o New York Times e Washington Post.

Uma segunda inscrição alegadamente forjada está gravada em uma pequena romã de marfim pela qual o Museu de Israel pagou $550.000. Se for autêntica, pode ser a única relíquia sobrevivente do Templo de Salomão. Ela também foi anunciada pela primeira vez em Inglês na Biblical Archeological Review (BAR).

As acusações de fraude incluíram alegações de falsificações de inscrições no Ossuário de Tiago, no Tablete de Joás, e na Romã de Marfim.

Um terceiro objeto acusado de falsificação é o chamado Joás (ou Yehoash, em Hebraico), uma inscrição num texto com 15 linhas descrevendo reparos para o templo. Se autêntica, é a primeira inscrição da realeza israelita.

Artefatos acusados de fraude

A acusação também apontou diversas outras inscrições como sendo fraudes, incluindo a ostraca “Três Shekels” e a ostraca “Fundamento da Viúva” (escritos em vasos de cerâmica), vendidos pelo colecionador alemão famoso e rico – Shlomo Moussaieff.

O juiz inocentou os acusados de todas as acusações de falsificação.

Como escreveu Matthew Kalman, o único jornalista que cobriu o julgamento em uma base diária, escreveu no outono passado: “As implicações criminais, acadêmicas e científicas do veredicto [do juiz] são imensas… A absolvição seria um grave revés para a IAA (Autoridade de Antiguidades de Israel). Também seria agudamente embaraçosa para os especialistas em isótopo da Israel Geological Survey (Pesquisa Geológica de Israel) e para o professor Yuval Goren da Universidade de Tel Aviv.”

Quando a acusação foi arquivada em 2004, a Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) alegou que os réus faziam parte de uma grande conspiração de falsificação. Isso é apenas “a ponta do iceberg,” dizia o diretor da IAA – Shuka Dorfman. Entre os suspeitos pela IAA de falsificação constavam mesmo os experts escritores acadêmicos Andre Lemaire da Universidade Sorbonne e Ada Yardeni da Universidade Hebraica. A testemunha do chefe do governo no caso, o Professor Yuval Goren da Universidade de Tel Aviv, alegou que exerceu muito um “papel crucial” na acusação de conspiração de falsificação. A minha participação, afirmava ele, era “evidente”.

Talvez o mais prejudicado pela decisão do juiz foi o Vice-diretor da IAA Uzi Dahari, que presidiu o Comitê da IAA o qual concluiu que a inscrição no Ossuário e a inscrição de Joás eram falsificações. Ele guiou forçosamente um grupo de estudiosos para aceitar uma decisão alegadamente unânime do Comitê concluindo que as duas inscrições eram falsas. (Veja abaixo). Em um fórum organizado pela revista BAR, o Dr. Dahari acusou o editor da revista (Hershel Shanks) de ser o “catalisador de uma série de falsificações”. Ele continuou: “Sr. Shanks, você está brincando com fogo quando continuamente publica achados dessa natureza”. Ele se refere a “provas sólidas” que estas duas inscrições foram forjadas.

Vamos considerar a acusação acerca do ossuário com a inscrição “Tiago, filho de José, irmão de Jesus.” Todos (sem exceção) concordam que o ossuário, propriamente dito, é autêntico e antigo (do primeiro século). A questão é saber se a inscrição nele é forjada, ou mais especificamente, se a frase “irmão de Jesus” foi adicionada recentemente à antiga inscrição “Tiago, filho de José.”

Inscrição no Ossuário de Tiago, em aramaico: “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”.

A inscrição “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” no Ossuário de Tiago é a peça mais conhecida do caso. Análises Paleográficas e a existência de  pátina antiga sugerem que a inscrição é autêntica.

A primeira parada em qualquer investigação sobre esta questão seria na porta dos paleógrafos – estudiosos que podem datar e autenticar as inscrições de certos períodos históricos específicos com base no estilo e na posição das letras. Neste caso, a inscrição foi autenticada por duas das maiores autoridades mundiais em Paleografia da atualidade, tal como referido anteriormente, Andre Lemaire da Universidade Sorbonne e Ada Yardeni da Universidade Hebraica de Jerusalém.

O que é ainda mais significativo é que nenhum paleógrafo de qualquer reputação sugeriu que esta inscrição pode ser uma falsificação. Não há nenhum “outro lado da questão”, falando em termos de Paleografia.

Nem a acusação supostamente científica se sustenta. O Professor Yuval Goren da Universidade de Tel Aviv afirmou ter encontrado o que ele chamou de “James Bond”, que cobriu a inscrição para ocultar provas de falsificação. O “James Bond” foi, disse ele, uma mistura de terra calcária e água quente que formaram uma falsa pátina. No entanto, descobriu-se não havia nenhuma maneira de fazer com que a hipotética mistura de Goren se fixasse na superfície do Ossuário sem a adição de um ácido; vestígios disto seriam encontrados – e não estavam lá.  Esta “explicação” assim chamada de James Bond é tão frágil que pode ser removida com um palito; Ela foi mal “colada”. O próprio Yuval Goren admitiu que a sua “James Bond” poderia ser o resultado de limpeza do ossuário (alguns negociantes habitualmente lavam objetos com água quente para destacar inscrições).

Mais importante do que isto, é que a pátina antiga original pode ser vista em várias partes da inscrição, incluindo uma

Urna Ossuária de Tiago, irmão de Jesus

das letras da palavra “Jesus”. Antes do julgamento, Yuval Goren tinha afirmado que não havia qualquer pátina antiga na inscrição. Quando a ele foram apresentadas, no contra-interrogatório, novas fotos tiradas por um dos peritos do requerido, o Professor Goren ficou aturdido e pediu um recesso para permitir-lhe tempo a fim de que examinasse a caixa propriamente dita, em vez das fotos. Ele voltou no dia seguinte e admitiu no tribunal que havia, na verdade, patina antiga original em algumas das partes da inscrição. No entanto, ele tentou explicar isso, sugerindo que o falsificador incorporara arranhões antigos à patina naturalmente formada, apontando isto como indícios das partes forjadas da inscrição. Sobre isto, Hershel Shanks, editor da revista Biblical Archeological Review, afirmou: “Se alguém acredita nisto, eu gostaria de dizer que eu sou proprietário de uma ponte pública e eu gostaria de vendê-la muito mais barato”. Na verdade, a presença desta esta patina antiga original em toda a inscrição foi observada muito antes do julgamento, por Orna Cohen, um dos membros do comitê da Autoridade de Antiguidades de Israel, mas ninguém prestou atenção nisto. O IAA sabia aonde queria chegar.

Hershel Shanks, editor da Revista Bíblical Archeological Review

Há outras razões, mais simples, para se crer que a inscrição não é uma falsificação. Oded Golan possuia o Ossuário de Tiago desde a década de 1970. Ele provou isso com fotografias antigas autenticadas por um ex-agente do FBI nas quais é usado um tipo de papel que não é mais usado em uma data posterior. E Golan nunca tentou vender o ossuário ou divulgar a inscrição. Ele afirma veementemente que nem sabia que o Novo Testamento menciona Tiago como o irmão de Jesus, ou como ele disse, “Eu nunca soube que Deus poderia ter um irmão.” Ainda mais compreensivelmente, ele não tinha ideia que o nome Ya’acov (como está escrito no ossuário) e Jacob (para qualquer israelita) foi traduzido como “James” no Novo Testamento em Inglês[1].

A acusação alegou ter encontrado ferramentas de falsificadores no apartamento do Golan. Golan afirma que elas eram usadas na restauração de antiguidades da sua coleção, não para fazer falsificações. Nenhuma dessas ferramentas, no entanto, poderia ser usada para gravar a inscrição no Ossuário de Tiago. Mesmo se ele fosse um falsificador, isso não significa que tudo na sua vasta coleção é uma falsificação.

O fato é que estes comitês presididos pelo diretor-adjunto da IAA Uzi Dahari eram uma armação. O IAA sabia onde ele queria ir — e ele chegou lá. Ele alistou Yuval Goren para liderar um pacote de estudiosos que “foram junto”. O Padre Joseph Fitzmyer, provavelmente dos principais especialistas do mundo em Aramaico Antigo (a língua falada em Israel na época de Jesus e usada na inscrição no Ossuário de Tiago) fornece os detalhes. As comissões incluíam pessoas que anteriormente tinham dito que as inscrições eram provavelmente falsas, mas não incluíam ninguém do outro lado. Assim, por exemplo, o erudito Andre Lemaire não foi incluído. Também não foram incluídos os geólogos do Geological Survey of Israel que tinham concluído que as inscrições eram autênticas. Muitos dos membros do Comité do IAA admitiram que a sua expertise não é em áreas que lhes permitam opinar sobre autenticidade, mas o IAA tratou os seus abstinentes como votos a favor da falsificação. Os que se abstiveram foram tratados como votos de “sim” quando o IAA anunciou a “unanimidade” da sua Comissão.

O IAA tentou “dar a impressão que os comitês eram unânimes, e não eram unânimes de maneira alguma”, diz  Fitzmyer.

Ainda pior, é que os membros do Comitê, por diversas vezes, basearam os seus votos “sim” em provas “científicas” de Yuval Goren, não em suas próprias expertises. Por exemplo, o altamente respeitado arqueólogo Ronny Reich relatou ao Comité que “na minha opinião a inscrição de Jesus é autêntica.” No final, no entanto, ele disse que foi “forçado” a mudar seu pensamento, como resultado do conhecimento geológico de Yuval Goren. Ele não foi o único membro do Comité a fundamentar seu voto com base no conhecimento de outra pessoa, e não no seu próprio.

A decisão do juiz significa que a acusação não conseguiu provar que os artefatos são falsos. A discussão agora pode prosseguir de forma mais acadêmica. E talvez o IAA tenha aprendido algumas lições que podem ser aplicadas no futuro.

A imprensa mundial não deu atenção ao veredito deste caso. Desde o dia 14 de março último (2012), quase nada foi noticiado pelos canais de televisão internacionais ou nacionais, ou nos jornais ou revistas (com exceção da BAR).

Isto é digno de nota, uma vez que as implicações da descoberta deste artefato são altamente impactantes. O Ossuário de Tiago (ou Ossuário de Ya’acov), sendo autêntico como tudo indica, é uma prova que de Jesus[2] tinha um irmão – de carne e sangue. O fato dos nomes Tiago e Jesus aparecerem juntos numa urna ossuária datada cientificamente do primeiro século demonstra cabalmente que eles eram do mesmo núcleo familiar (literalmente irmãos), e não primos ou parentes. Derruba uma interpretação Católico-Romana de que a referência bíblica neotestamentária a Tiago como sendo irmão de Jesus significa “primo”, “parente” ou “irmão de fé”. Este artefato é mais importante ainda porque é uma evidência histórica material da existência de Jesus. Existem evidências históricas da existência de Jesus fora da Bíblia, como, por exemplo, os escritos antigos de Josefo e de outros, mas não existia evidência arqueológica tão forte. Os que pensavam e afirmavam que Jesus nunca existiu, que não foi uma pessoa real porque não havia evidências arqueológicas/materiais de sua existência, não possuem, a partir do resultado deste julgamento, nenhuma razão para pensar assim.

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Grande parte do texto deste artigo foi traduzido da matéria da revista Biblical Archeological Review, disponível em http://www.biblicalarchaeology.org/daily/news/verdict-not-guilty/. Acessada aos 06/04/2012.


[1] Ou como “Tiago”, no Novo Testamento em Português.

[2] Alguns levantam a possibilidade de que “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” se refira a outro Jesus, e não ao Jesus do Novo Testamento, porém, o erudito Andre Lemaire, segundo Shanks e Whiterington (2003), demonstrou que a probabilidade estatística de os três nomes aparecerem juntos numa urna ossuária do primeiro século e não se referirem a Jesus Cristo, ao seu pai adotivo José e ao seu irmão Tiago, é praticamente nula.

2 Comments

  1. joao C.P.Silva

    Jamais saberemos todas as verdades sobre Jesus, o homem mais sábio e perfeito que viveu na Terra e que se identificou de tal ordem com Deus que pôde afirmar um dia “Que eu e o Pai somos uma mesma pessoa”(…) “quem me vê vê o Pai”. Ele nos ensinou como chegarmos ao Pai, sendo retos de coração (justos, leais, caridosos…) e amando a Deus sobre todas as coisas, ou seja, não dando às coisas do mundo valor maior do que elas têm, desapegando-nos das coisas materiais… As religiões, é sabido, talvez por zelo excessivo, acrescentaram aos ensinamentos de Cristo muita coisa que, hoje, quando a civilização está num nível intelectual bem mais desenvolvido, faz com que muita gente tenha dificuldade em crer do jeito que elas ensinam… Possivelmente algumas verdades de hoje poderão vir a ser revistas, por alguém inspirado, e as novas interpretações serem acatadas pelas religiões… Deus é nossa verdade absoluta. O homem sem Deus é nada, poeira que se desmancha.

  2. joao C.P.Silva

    Estou de acordo