Predestinação e Liberdade de Escolha Juntas

fev 2, 2011 by

Predestinação e Liberdade de Escolha Juntas

 

Por Marcio S. da Rocha.

Não sei quem é este autor, mas esta sua frase é de uma sabedoria impressionante:

O diretor sabe muito do que acontecerá no filme, mas os detalhes concernentes à cenas e aos eventos menores são opções dos atores. Esse é o modelo do mundo no qual o tempo é real, e o futuro tem opções dentro de certos limites definidos divinamente. Winkie A. Pratney[1]

Tenho percebido que muitos irmãos se posicionam contra a doutrina bíblica da  Predestinação Para a Salvação (Atos 13.48; Rom. 8.29-30; João 16.7-8; Ef. 1.11; 2.8; etc.) porque observam empiricamente que o ser humano possui a liberdade de decidir. “Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?” (Noel Rosa). A todo momento estamos usando a nossa liberdade e tomando decisões, e este fato leva muitas pessoas a deduzir que há uma incompatibilidade entre a liberdade do homem e a soberania de Deus; que, se existe liberdade de escolha, não pode existir predestinação. Daí, essas pessoas seguem deduzindo também que Deus sabe o futuro, mas não o dirige.

Esta frase do Pratney, entretanto, coloca de modo magistral o que a Bíblia também afirma: que Deus não somente sabe o que acontecerá, mas DIRIGE o que acontecerá (o futuro). Ele é o diretor do filme da vida; e isto não impede, entretanto, que nós — os atores da vida — improvisemos nos detalhes, demos um “toque pessoal” às cenas de nossas vidas.

Não há nenhuma incompatibilidade entre a liberdade de escolha do homem, no dia-a-dia, e a soberania do eterno Deus da Bíblia. As duas co-existem.

Porém, não se deve confundir esta liberdade de decisão que temos (dentro do script de Deus) com a doutrina do Livre Arbítrio Para a Salvação, do teólogo holandês Armínio (Jakob Hermanszoon [1560 – 1609]). Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Armínio postulou que é o homem quem decide, em última instância, e não Deus, se quer crer em Cristo e ser salvo ou não; se recebe a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador ou não. Para Armínio, o homem é o próprio diretor da cena da salvação (ou perdição) do filme de sua vida. Para esta cena, segundo Armínio, não há um script rígido; os atores improvisam não somente os detalhes das suas atuações, mas decidem o rumo da própria cena – alterando assim o restante do filme – e escrevem suas próprias vidas com sua decisão. Para Armínio, em suma, a salvação é obra do homem. Há uma derivação mais moderna de sua doutrina que afirma que o homem co-participa da obra salvífica de Deus quando decide crer nele e aceitá-lo, ou seja, que a salvação é obra conjunta de Deus e do homem. Mas tanto o Arminianismo puro quanto esta variante (da “co-autoria da salvação”), por mais simpática que seja à lógica humana, são estranhas à Bíblia Sagrada.

Embora existam versos bíblicos que apontam claramente que deva haver uma decisão por Cristo por parte daqueles que serão salvos (João 3.16-18; Rom. 10.9; Atos 16.31; etc.), há passagens também muito claras na Bíblia que ensinam que até a fé para crer em Cristo não vem da própria pessoa. Esta vem de Deus. É ele (e só ele) quem a dá. Portanto, a decisão, decorrente da fé, não é da pessoa humana, e sim de Deus.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; (Ef. 2.8. ARA. grifo nosso).

“Porque Deus é quem opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.” (Fp. 2.13. ARA. Grifo nosso).

Nosso Senhor Jesus afirma (João 16.7-8) que, se o Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade Divina, o Ajudador (Gr. parácletos), não convencer o ser humano de que é pecador, de que há uma justiça divina e de que haverá um julgamento, ele jamais irá querer (desejar) ser salvo. Não há a menor probabilidade de que alguém sequer queira ser salvo sem que antes o Espírito Santo o convença. O ser humano simplesmente não possui este “livre arbítrio”, pois o seu coração (sua essência) está cheio de sujeiras: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (Mt 15.19. ARA). A sua mente está corrompida, viciada pela vaidade: “Aquele que instrui o homem no conhecimento, o Senhor, conhece os pensamentos do homem, que são vaidade.” (Slm. 94.10-11. ARA). Toda a vida humana está deturpada e isto é expresso no comportamento da humanidade:

“Ninguém faz defesa com integridade. Ninguém pleiteia sua causa com justiça, apóiam-se em argumentos vazios e falam mentiras; concebem maldade e geram iniqüidade. Chocam ovos de cobra e tecem teias de aranha. Quem comer seus ovos morre, e de um ovo esmagado sai uma víbora. Suas teias não servem de roupa; eles não conseguem se cobrir com o que fazem. Suas obras são más, e atos de violência estão em suas mãos. Seus pés correm para o mal, ágeis em derramar sangue inocente. Seus pensamentos são maus; ruína e destruição marcam os seus caminhos.” (Isa. 59.4-7. NVI)

“Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.” (Rm 3.12. ARA)

Se o homem não pode, por si, sequer querer ser salvo, então é Deus quem escolhe a quem quer convencer… e consequentemente… a quem irá salvar. É esta a mensagem bíblica: Deus convence, faz crer em seu Filho, converte, e salva a quem quer. A pessoa que foi convencida pelo Espírito Santo reconhece-se pecadora, arrepende-se, converte-se e é salva; decide, tudo isso em resposta irresistível à soberana vontade do Senhor. Outra que não foi tocada, convencida pelo Espírito Santo, simplesmente continua no seu estado deturpado, sem crer em Cristo nem reconhecer que é pecadora (João 3.18).

A passagem onde está o verso de Atos 13.48 parece ser decisiva quanto à realidade da predestinação para a salvação:

“E creram todos os que haviam sido predestinados para a vida eterna.” (Atos 16.48. Tradução Literal SBB).

Sei que isto é muito difícil de compreender, pensando como homem. Diria que até impossível de entender. Porém, está escrito na Bíblia com clareza, portanto, mesmo não podendo ser entendido pela mente humana (é tão incompreensível quanto a Trindade), precisa ser aceito.

Retornando à frase de Pratney, existe uma liberdade de escolha, mesmo na realidade da Predestinação. Nós temos liberdade de improvisar nossa atuação nas muitas cenas “do filme” de nossa vida. Mas não de desrespeitar o script, especialmente na “cena” da salvação. Só quem pode mudar o script é o diretor.

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[1] Extraída do website http://paoevinho.org. acessado aos 02/02/2011.

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2 Comments

  1. Prezado irmão em Cristo,

    Seu site é muito interessante, somos parceiros na mesma jornada.
    Sou um cristão reformado, portanto, defensor das antigas “Doutrinas da Graça”.
    Nossa Igreja através de seus membros viverem estas verdades na esperança de um dia o povo de Deus entender que somente os eleitos é que serão salvos.
    Não sabemos porque O SENHOR determinou desta maneira, mas Ele é Soberano sobre todas as coisas.
    Soli Deo Glória!
    Rev. Sebastião Mendes de Freitas
    bispo
    Igreja Episcopal Reformada do Brasil
    ierbrasil@gmail.com

  2. graça e paz caro irmão eu estava pesquisando na net sobre os fundamentos da fé cristã e encontrei seu site e gostei muito principalmente sua explicação sobre predestinação DIVINA numa linha reformada mas explicada numa linguaje pastoral foi a primeira vez que eu entendi está doutrina e ela me trouce conforto porque foi explicada na linguajem correta .